As redes sociais discutem se é válida a intenção da Secretaria de Políticas de Mulheres de retirar do ar a campanha de lingeries com Gisele Bündchen, considerada discriminatória. No comercial, Gisele só conseguiria ascendência sobre o marido se ficasse seminua, de lingerie. Vestida, jamais!
Mas eu proponho a discussão sobre outro tipo de preconceito, até mais cruel e excludente: aquele contra as Mulheres Feias. Na primeira página de O Globo hoje, a sacada, que, não posso negar, é espirituosa, confrontando a ministra Iriny Lopes, feia, versus Gisele, linda. E ainda a vinheta "certo", ao lado de Gisele. Implícito fica que a vinheta "errado" estaria no lado oposto, o de Iriny.
O que faz subentender que não é só andar vestida que é "errado". Ser feia também é. Porém, por uma dessas doces ironias que fazem refletir, são justamente as mulheres feias que neste dia 29 de setembro de 2011 embelezam o noticiário.
Partiu da feia, muito feia, Luiza Erundina, a deputada, a iniciativa brava e linda, muito linda, do projeto (rejeitado) que previa a revisão da Lei da Anistia. Com pertinência, disse a deputada: "A atual lei (a lei em vigor) não se deu em bases de igualdade. Ainda estávamos em plena ditadura". Ela ainda lembrou que o texto da Comissão da Verdade aprovado "não permitirá apurar tudo, será uma meia Comissão da Verdade". Afirmação de indiscutível beleza, pois a verdade é sempre bela.
E eu me surpreendo ao ler, na mesma reportagem, que foi o deputado Hugo Napoleão - que em seu passado apolíneo era chamado de "pão" - o autor do parecer contrário a Erundina, corroborado pelo igualmente bonito deputado Alfredo Sirkis, que por sinal defendeu a Comissão da Verdade tal como ela está, com os remendos feiosos que lhe costuraram, e é contra o julgamento de militares que violaram os direitos humanos na Ditadura. Diz o bonitão Sirkis que "os principais responsáveis (leia-se os grandes torturadores) já morreram e os de escalão médio, que estão no anonimato, ficarão expostos às câmeras de TV" (numa alusão à visibilidade que poderia ter outro horroroso belo, Jair Bolsonaro).
Sorte a do Sirkis, que conseguiu sair da ditadura com o rosto intacto e suas cicatrizes se restringiram às de suas lembranças e às dos personagens de seu lindo livro, Os carbonários, escrito por ele ainda em seus verdes anos de idealismo, fase de beleza resplandecente, quando, em nome de suas convicções, enfrentava corajoso a truculência dos mandantes e seus próprios medos. Como hoje me pareceu feia a beleza desses homens! "Feios, muito feios, medonhos mesmo!" - sapateio minha indignação, esbravejo minha desesperança.
No mesmo jornal e no mesmo hoje, outra mulher pontifica e não é pelos atributos físicos. É pelo destemor, a bravura e a petulância de dizer o que todos sabem: "Há bandidos escondidos atrás de togas". Não é de hoje que a agora ministra do STJ, Eliana Calmon, irradia sobre o Judiciário a aura de uma Miss Universo. Foi ela, fico sabendo, que assinou as ordens de prisão de todos os investigados na Operação Dominó. Entre eles havia dois juízes e um juiz auxiliar. Que formosura a dela, quando despe a toga do corporativismo em nome da firmeza de seus princípios. Uma Vênus!
Nenhum comentário:
Postar um comentário